1913, é o oitavo ano seguido da peça "O Pecador sem Pecado" e William Craw faz o papel principal da peça. Ele não aguenta mais repetir sua atuação, noite após noite, apesar do sucesso. Seu sucesso é uma prisão, ele está aprisionado ao personagem de Sir Lawrence, ninguém quer lhe dar outro papel. Será que ele conseguirá sair desse predicamento?
Considero este, de muito longe, o meu melhor roteiro. Eu tinha feito um curso de teatro na USP e lido trechos de "A Preparação do Ator" e a "A Construção da Personagem", dois pilares do método seminal para atores do russo Kostantin Stanislavsky (1863-1938), e me surgiu a ideia de abordar a questão da relação do ator com a sua personagem: poderia a personagem se tornar mais forte do que o próprio ator? Poderia um papel aprisionar seu intérprete? E o dramaturgo, pode ter responsabilizado por esse aprisionamento? O roteiro explora essa relação tripla, ator-autor-personagem, conduzindo o plot com tensão crescente até as suas últimas consequências. No fundo, o foco é a obsessão e a arte, um tema que seria tão bem explorado pelo Haqeen no roteiro Anjo (76).
Arcano9